Folha de São Paulo, de volta para o passado



A Folha deste domingo arranca dramaticamente a máscara de “jornal plural” e desnuda a si própria ao pedir a renúncia de Dilma e do vice Temer, o argumento central do jornalão é que “formou-se imensa maioria favorável a seu impeachment”. Formou-se onde, cara-pálida, além da redação da Barão de Limeira e das pesquisas do DataFolha ? A imensa maioria que vale são os 54 milhões de eleitores que a escolheram como presidente da república.

Com o editorial, a Folha engata uma marcha-a-ré e volta a 1964, quando apoiou o golpe militar que infectou o brasil, matou, torturou, perseguiu e exilou milhares e milhares de brasileiros. No caminho, faz um pit-stop nos anos de chumbo, quando o jornal emprestava seus veículos para os tonton macoute do general Médici caçarem comunistas.

Mesmo reconhecendo que inexistem “motivos irrefutáveis” para o impedimento da presidente da república, o jornal afirma que “seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo” (???) e sugere que, após a renúncia de Dilma e Temer, sejam convocadas eleições em 90 dias. Se seguisse seu próprio manual de redação, o jornal teria que publicar na segunda-feira um “erramos” vazado nestes termos: “onde se lê ‘povo’, leia-se ‘os derrotados nas eleições de 2014’”.

Sugiro, finalmente, que o jornal demita por justa causa o autor da peça literária. O Cláudio Marques que perpetrou o artigalhão se esqueceu de propor que, antes da convocação de novas eleições, o ex-presidente Lula seja inabilitado para disputá-las. Porque até os vendedores de carros usados da Barão de Limeira sabem que, se não tirarem Lula do campo, a força, ele ganha as eleições! 

Texto: Fernando Morais, jornalista e escritor.


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