134 anos do falecimento de Karl Marx


(...) Há que julgar todas as coisas a partir do ponto de vista humano. Quando lemos a biografia de homens que honramos e respeitamos, sem dúvida nos alegra saber que foram ou são como os outros, ainda que inteligentes, instruídos e úteis à causa revolucionária. Apenas nos velhos dramas e nas tragédias pseudoclássicas se representa os homens como heróis: caminham e as montanhas vem abaixo; chutam e a terra se abre; comem e bebem como deuses. Assim apresentaram Marx algumas vezes; como por exemplo, nossa querida Clara Zetkin, um pouco levada pelo exagero. Nesses casos se esquece sua resposta quando lhe perguntaram qual era sua frase preferida: Homo Sum: humani nihil a me alienum puto. Como qualquer um, ele cometia erros; com frequência, deplorava sua excessiva confiança nas pessoas e algumas vezes exercia sua injustiça com determinadas pessoas. Podemos perdoar-lhe sua inclinação ao vinho, lógica para um natural do Mosela, mas, não obstante nosso afeto por ele, não podemos fazer o mesmo a respeito da sua paixão pelo tabaco. Como anedota, ele mesmo dizia que O Capital não havia rendido nem o valor para pagar os cigarros que fumou enquanto o escrevia. Como era pobre, consumia um tabaco de má qualidade, que contribuiu para abreviar sua vida e contrair a bronquite crônica que tanto o fez padecer durante seus últimos anos de vida.

Em 14 de março de 1883, faleceu Marx. Engels tinha razão ao escrever sobre esse dia a seu velho camarada Sorge:

"Todos os fenômenos, mesmo os mais horríveis, que ocorrem segundo as leis da natureza, comportam um consolo. Não há no caso presente. Talvez os recursos da medicina poderiam dar-lhe ainda dois ou três anos de vida vegetativa, de vida impotente para o ser que lentamente morre; mas Marx não suportaria semelhante vida. Viver tendo diante de si uma série de trabalhos inconclusos e padecer do suplício de Tântalo de pensar na impossibilidade de terminá-los, haveria sido para ele mil vezes mais penoso do que uma morte tranquila. “A morte não é terrível para o que morre, mas para o que fica”, costumava dizer Epicuro. Ver este homem genial e potente feito um despojado, arrastando sua existência para a glória da medicina e alegria dos filisteus que, fustigados tão implacavelmente durante a plenitude de suas energias, tinham uma ocasião para agora zomba-lo, teria sido um espetáculo demasiado grotesco, e mais vale que assim seja, que tenha desaparecido e que passado amanhã o depositemos na tumba em que descansa sua mulher. Em minha opinião depois de tudo o que passou, não havia outro final; o que sei melhor do que todos os médicos. A humanidade toda, tem uma cabeça menos. Perdeu a um dos seus representantes mais geniais. O movimento do proletariado seguirá seu caminho, mas não terá mais o chefe a quem recorriam nas horas críticas os franceses, os russos, os americanos e os alemães e de quem recebiam sempre conselhos claros e seguros, conselhos que somente podia oferecer um gênio e um homem consciente".


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Trecho do livro "Marx & Engels" do historiador soviético David Riazanov, lançado pelo selo Edições Nova Cultura: goo.gl/6SmoQd

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