Toxina Botulínica eficiente alternativa no Tratamento da Neuralgia do Trigêmeo

Toxina botulínica é eficiente alternativa no tratamento da neuralgia do trigêmeo

Distúrbio capaz de provocar dor lancinante na face, a neuralgia do trigêmeo atinge toda a região do rosto por onde passa o nervo responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. Portanto, a toxina botulínica surge como alternativa terapêutica eficaz no alívio de intensos episódios de dores excruciantes.
A toxina botulínica tinha, inicialmente, indicação em afecções que apresentassem sintomas de comprometimento motor. Na última década, surgiram indicações para as síndromes dolorosas, como a migrânea crônica e a neuralgia do trigêmeo. Qual o provável mecanismo de ação da toxina botulínica nessas afecções?
Seu princípio é semelhante ao observado na parte motora: a toxina botulínica vai, por via retrógrada, ascendendo pelos nervos e inibe a transmissão neural, bloqueando-a e agindo em diversos tipos de receptor.
Ainda não temos um protocolo fixo para a aplicação de toxina botulínica nessa condição. Como devemos selecionar a área a ser aplicada? Qual a dose total, como os pontos de aplicação devem ser distribuídos e quantas unidades devem ser utilizadas em cada ponto?
Um artigo publicado na revista Neurology já estabelecia como fazer, que foi destaque no Congresso Americano de Neurologia e no próprio periódico. Apesar dessa relevância, algumas autoridades internacionais em toxina botulínica ainda preferem ignorar tais resultados. Os pacientes escolhidos serão aqueles que não responderam de forma adequada ao tratamento medicamentoso e que não se recusem a se submeter a tratamentos cirúrgicos. Temos diversas modalidades de tratamento cirúrgico e qualquer uma delas pode ser associada a recorrência. Em geral injetamos a toxina botulínica na epiderme, em uma quantidade pequena (geralmente de cerca de 20 unidades por nervo trigeminal). No entanto, é possível que a neuralgia trigeminal afete cada um desses ramos individualmente ou mais ramos ao mesmo tempo. Geralmente seguimos o trajeto da dor. O efeito da toxina começa aproximadamente 11 dias após a injeção e se mantém por cerca de 3 meses, ou seja, são necessárias 4 aplicações por ano para se obter resultado contínuo. Observamos, na maior parte dos pacientes, a possibilidade da redução de medicamentos e, em raros pacientes, até mesmo a retirada das medicações. 

Quando devemos indicar esse procedimento para a terapia da neuralgia do trigêmeo e como ele se mostra superior às terapias utilizadas atualmente?
Não podemos falar em terapia superior, por tratar-se de terapia escalonada, que se inicia com medicamentos orais. De fato, como não apresenta efeitos adversos de natureza sistêmica, a toxina botulínica pode, em alguns aspectos, ser considerada superior ao tratamento medicamentoso com estabilizador de membrana. Mas não advogamos que se quebre o protocolo: primeiramente, o paciente utilizará o estabilizador de membrana, que pode ter uso conjunto com toxina botulínica; depois, o paciente segue para os tratamentos invasivos ou semi-invasivos, desde coagulação por radiofrequência até cirurgia de descompressão microcirúrgica. 

Como a neuralgia do trigêmeo acomete um dos lados da face, a aplicação unilateral da toxina botulínica pode produzir assimetrias na mímica facial. Como minimizar esse efeito? 
Em geral não há alterações, pois a toxina botulínica é aplicada em baixa dose e muito superficialmente. No entanto, em algumas regiões da face, é prudente que se faça a aplicação bilateral, no lado afetado e no não afetado, para evitar assimetria. Além disso, não há outras formas de minimizar os efeitos, que, quando ocorrem, são transitórios. De forma muito categórica, preconizamos não aplicar nas mucosas da boca, e que se tenha extremo cuidado no sentido de evitar aplicações profundas próximas do nervo facial.

Muitos pacientes com neuralgia do trigêmeo se queixam de dor periodontal ou gengival. Nesses casos, podemos realizar a aplicação intraoral de toxina botulínica? 
Não. Recomendamos que seja administrada em quantidade equivalente na face, com muita cautela, pois sua aplicação na região do “bigode chinês” pode acarretar efeitos cosméticos indesejáveis.

Comentários