Dudalina investe para desmantelar processo de falsificação de suas camisas.

A camisaria catarinense Dudalina a cada dia que passa ganha mais espaço no mercado de moda brasileiro. No entanto, com seis fábricas, mais de 86 lojas abertas no País e prestes a inaugurar a segunda unidade no exterior, o sucesso da companhia entre os brasileiros também trouxe uma consequência negativa. A Dudalina, usada por personalidades e apresentadores de TV, é hoje a marca de moda nacional mais pirateada no comércio popular do País.
A empresa, dirigida por Sônia Hess, já desembolsa em torno de R$ 1,2 milhão por ano para combater a falsificação do seu produto, que se tornou sonho de consumo de uma classe consumidora que não tem condições de pagar a média de R$ 320 por uma camisa. No mercado da pirataria, as mesmas peças saem por preços que variam de R$ 50 a R$ 100, é possível comprar seis cópias com o valor pago por uma peça legítima. “Não tenha dúvida, nenhum consumidor é enganado. As pessoas sabem que têm um produto falsificado absurdamente mal feito, de baixa qualidade e extremo mau gosto”, diz Rui Hess, diretor de varejo da Dudalina, sobre quem compra as chamadas “réplicas”.
Na tentativa de eliminar os produtos ilegais, que são fabricados tanto no País quanto em países asiáticos e latino-americanos, a empresa contratou escritórios de advocacia no Brasil, Peru e Paraguai, além de investigadores para desmantelar o processo. “Montamos uma estrutura absurda. Temos uma equipe que cuida somente de internet. Eliminamos, aproximadamente, 100 sites irregulares por dia”, conta Rui Hess. Nas ruas, segundo o diretor, as apreensões diárias variam de 300 a 3.500 peças entre os distribuidores e ambulantes.
Apesar de todo o esforço, a camisa falsificada da Dudalina é hoje o produto têxtil com maior demanda nos camelôs e stands do comércio popular, segundo os próprios vendedores. Basta passar pelas proximidades da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, para que você seja laçado por um desses agentes. De pé, com um pequeno álbum nas mãos, oferecem os produtos das fotografias.
O preço é mais alto do que o praticado em outros endereços, como no Bom Retiro ou no Brás, onde praticamente se tropeça nas pilhas de camisas da Dudalina. Os camelôs esparramam as peças falsificadas com a marca Dudalina pelas calçadas das ruas principais desses dois centros de comércio popular.
As mulheres são as que mais compram nesses endereços paulistanos , seja para o próprio uso ou para revender no interior de São Paulo e em outros Estados. Se o modelo estiver em falta, o camelô rapidamente dá um cartão de visitas ao interressado e orienta para que entre em contato por telefone. Ao sinal de fiscalização, as mercadorias são enroladas em panos e seus donos desaparecem por ruas estreitas ou galerias. Passado o perigo, volta a invasão de Dudalina , as cópias são bem cuidadas, com etiquetas bordadas, e até os sacos onde as peças são guardadas têm a logomarca da empresa.
Para o diretor de varejo da Dudalina, o comércio grande e escancarado de produtos de piratas se beneficia da fraca atuação do governo no combate ao delito. “A ação é limitada, quase que incentivadora da ilegalidade. Na prefeitura de São Paulo chega a ser um absurdo a intenção declarada à informalidade”, observa Rui Hess. O executivo alerta para as consequências deste tipo de comércio. “Isso reflete proporcionalmente na violência da cidade. A 25 de Março é um processo vergonhoso no País. Não há o que fazer. O governo da cidade simplesmente ignora os apelos da legalidade”, diz Hess.
Segundo o executivo, conseguir apoio das autoridades é justamente o maior desafio na trajetória contra a pirataria têxtil. Hess diz que já soube de casos em que o juiz deu ganho de causa ao contraventor pela condição social em que ele "estava inserido na sociedade", condenando a empresa que teve seus produtos falsificados. “Esse é o estado da justiça no Brasil. É uma coisa que foge a qualquer condição de bom senso. Nós temos de lutar apesar disso, mas é uma situação extremamente ruim”, comenta.
Sem o apoio necessário do governo para a guerra que travaram contra a pirataria, a empresa decidiu aplicar nas etiquetas de seus produtos uma marca de segurança. Trata-se de uma linha holográfica que não pode ser copiada (segundo a direção da camisaria). A proposta é que o consumidor pegue o produto e consiga identificar se trata-se de uma peça original ou pirata.
Sobre a Dudalina ter se tornado uma marca de desejo e, por isso, alvo preferido da pirataria, Rui Hess lamenta: “Sentimo-nos extremamente desconfortáveis com o fato, porque de certa forma incentivamos involuntariamente este esquema de falsificação que agora temos que desmantelar. Estamos muito mais angustiados por alimentar um esquema desses do que lisonjeados por ser um produto de desejo”, finaliza o diretor.

Comentários