Entendendo "o grito das ruas"

Manifestação no Congresso Nacional em 17 de Junho


As manifestações que se espalharam pelo Brasil em junho e continuam acontecendo em vários pontos do país têm vários focos e, em muitos casos, podem ser difíceis de serem compreendidas. Apesar de muitos, inclusive políticos, terem se surpreendido com os protestos e as consequências do "grito das ruas", o surgimento da onda de manifestações não pode ser considerado uma surpresa. Então vamos esmiuçar melhor as causas, principalmente as de caráter local e regional, dos protestos pelo país e apontar as peculiaridades das passeatas nas principais cidades.
As manifestações ocorridas não foram um raio em céu azul nem vivíamos numa paz de cemitério.São diárias as pequenas e localizadas lutas do povo, com os meios que dispõe para enfrentar tudo isto. Uma luta silenciosa, na maior parte sem visibilidade.
Quem acompanha as pesquisas realizadas há anos sobre a avaliação dos brasileiros acerca das instituições representativas, assim como o ativismo de diversas organizações societárias, provavelmente não deve ter se surpreendido com esta manifestação popular mais consistente, mas sim com o fato de ela ter demorado a acontecer.
Compreender um movimento tão grande e fragmentado é um desafio. Para os nossos modelos de leitura da realidade fica mais fácil acusarmos os manifestantes de não terem foco e de introduzirem o imponderável no cenário político.Pode ser, mas devemos avançar para diagnósticos e compreensões necessárias.
Qualquer análise feita sobre um evento em andamento é sempre mais difícil do que de um fenômeno que possamos por um motivo outro dizer que terminou.
No norte do Brasil, por exemplo, cidades paraenses protestam  por mais qualidade e menor preço dos transportes fluviais.No outro oposto do país, gaúchos protestam a favor da CPI destinada a investigar a responsabilidade do poder público no incêndio da boate Kiss.
Mote das primeiras manifestações em São Paulo, o transporte público também aparece em outras cidades ,mas não só por tarifas mais baixas. Na Bahia, há um problema com o metrô, superfaturado e há mais de dez anos em construção. Em Curitiba:Há muito tempo a precarização do transporte público se faz sentir e as reclamações de usuários e dos trabalhadores nos transportes públicos são inúmeras e cotidianas.
Em Belo Horizonte:Há duas décadas já há uma movimentação pedindo melhorias no sistema de transporte público. Também na região Sudeste, atos no Rio de Janeiro, uma das sedes da Copa das Confederações deste ano e da Copa do Mundo em 2014, além de palco dos Jogos Olímpicos de 2016, questionam gastos financeiros elevados na realização destes enormes eventos.
Além das questões urbanas presentes em outros Estados, as manifestações do Maranhão abordam a questão agrária,um terço da população maranhense mora no campo. E 30% dos trabalhadores estão em situação análoga à escravidão no Estado. Também no Nordeste,as principais reivindicações pernambucanas: Se referem aos transportes públicos deficitários e caros, mobilidade (ou imobilidade) urbana, exclusão social, desigualdades perversas e recorrentes, violência urbana e práticas de corrupção que se tornaram endêmicas.
Em São Paulo, a periferia que antes pedia questões imediatas como saneamento básico, postos de saúde e legalização de terrenos clandestinos, agora trata de temas como racismo, violência e educação precária.
No Centro-Oeste, Goiás também apresenta uma agenda ampla de temas : Desde da forma do prefeito decidir sobre o lixão de uma cidade pequena ao autoritarismo dos professores em um colégio; da necessidade de sinalizar melhor uma estrada que passa dentro da cidade, para diminuir os acidentes com morte, à agressão do governador aos professores, dos quais retirou vantagens na carreira e salários.
 

Comentários