"Marca-passo cerebral" é usado contra alzheimer


Médicos brasileiros estão começando a usar uma técnica ainda experimental para o tratamento de alzheimer.
Ao menos dois pacientes, uma no Rio e outro em São Paulo(*Leia história abaixo), receberam um aparelho conhecido como "marca-passo cerebral", já usado há cerca de 20 anos em pacientes com mal de Parkinson.
Neles, a estimulação cerebral profunda ajuda a melhorar os movimentos comprometidos pela doença. Nos doentes com alzheimer, o objetivo também não é curar nem reverter a degeneração do cérebro, mas retardar a progressão da doença.
A nova técnica começou a ser empregada há cerca de três anos por um grupo de médicos de Toronto, no Canadá, liderado pelo pesquisador Andres Lozano.
Um neurocirurgião do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio e que participou de uma das operações no país, diz que, no caso do alzheimer, a região escolhida para receber o estímulo é ligada ao acesso à memória.
"Fazemos dois pequenos furos na cabeça e passamos um eletrodo que é fino como um cabelo." O aparelho que envia os pulsos aos eletrodos é posicionado na clavícula, por baixo da pele.
De acordo com o professor de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da USP e que também participou das cirurgias, o que se espera é uma melhora global da memória.
Um outro neurocirurgião, da divisão de neurocirurgia funcional do Hospital das Clínicas, explica que a evolução dos pacientes operados será avaliada com a ajuda de testes neuropsicológicos, além da percepção dos próprios cuidadores dos doentes.Diz ele:"É preciso ser realista sobre os resultados. Até agora, não houve mudança e nem piora."
Os estudos científicos sobre a técnica ainda são iniciais. Em 2012, o grupo canadense pioneiro na cirurgia publicou resultados de cinco pacientes após um ano de estimulação. Foi observado incremento no metabolismo cerebral e melhora clínica.
Só agora 17 pacientes serão submetidos à técnica em uma pesquisa a ser realizada no Hospital dos Servidores, no Rio. "Todos têm menos de 60 anos. O método ainda não é indicado para os mais velhos."afirma.
Segundo um dos neurocirurgiões que integrou a equipe do procedimento feito no Rio, pacientes só podem passar pela operação após extensa avaliação.
Já um professor de neurologia da Faculdade de Medicina da UFMG, diz que os resultados iniciais do "marca-passo" são promissores, mas a estimulação não interfere no mecanismo básico da doença, que é a acumulação de proteínas beta-amiloide no cérebro.
"Os medicamentos estão aquém do que gostaríamos, mas ao menos já foram testados em milhares de pessoas e têm um efeito considerável em parte dos pacientes."concluí ele.
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(*) O engenheiro Renato, 57 anos, viu uma reportagem sobre a implantação do "marca-passo cerebral" em pessoas com alzheimer no Canadá há três anos e decidiu procurar o tratamento para sua mulher, Maria Amélia, 56 anos. Ela recebeu diagnóstico da doença há quatro anos.
"Nos casamos há uns 30 e tantos anos e minha mulher era do lar. Temos dois filhos, um advogado e uma médica. Levávamos uma vida comum, cinema, teatro. A gente viajava muito aqui pelo Brasil, principalmente Nordeste, Sul, Canela, Gramado. Ela gostava muito de frio, para se vestir mais bonita.
Até que aconteceu esse fato (o diagnóstico de alzheimer). Foi um Deus nos acuda. Desses quatro anos para cá, não faço nada além de cuidar dela, mas continuo trabalhando. Temos duas enfermeiras.
Tudo começou de forma simples. Pequenos esquecimentos que, no começo, a gente interpretava até como brincadeira.
Fizemos uma bateria de exames. Ela passou a tomar remédios para controlar o humor, tentar diminuir a rapidez da perda de memória para não ficar agressiva, hiperativa.
Soube do novo tratamento pela TV. Entramos em contato com os pesquisadores do Canadá e eles nos indicaram médicos no Brasil. O problema é que o preço era muito alto, então recorri ao plano de saúde, que negou inicialmente. Procurei a Justiça e conseguimos fazer a cirurgia.
A operação aconteceu há um mês. Agora, estamos na expectativa. Já notei alguma melhora, em detalhes, pequenas coisas do dia a dia.
Os médicos não prometeram milagre. Não é a cura. Mas, por menor que seja o resultado, é melhor que nada, que ficar esperando a morte chegar.
Espero que a gente possa retomar essas pequenas coisas, como viajar e nos divertir um pouco."

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