A Guerrilha do Araguaia:40 anos!



A Guerrilha do Araguaia representou um ponto de inflexão na história recente do Brasil. A partir dela, houve uma viragem na correlação de forças da conjuntura do regime golpista de 1964. Somados a outras ações ousadas de resistência democrática, os combates no Sul do Estado do Pará abriram caminho para que se formasse um movimento mais coeso e consistente de enfrentamento à ditadura. Ao mesmo tempo em que a repressão se manifestava de maneira bárbara, mesmo após o período mais sangrento do regime, as manifestações contra o arbítrio cresciam. Os assassinatos de Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, ocorreram já em meio a protestos destemidos contra o regime discricionário.
A crescente mobilização popular levou à decretação da Anistia em 1979, à derrota da ditadura em 1985 e à Assembléia Nacional Constituinte de 1988. Após um período de revés, quando triunfou o neoliberalismo, as forças políticas que expressam a resistência democrática abriram um novo ciclo no país com a eleição de Luis Inácio Lula da Silva para a Presidência da República — hoje continuado com a presidenta Dilma Rousseff. As bandeiras que mobilizaram a luta contra a ditadura estão nas mãos dos democratas e continuadores da luta dos que deram a vida no combate ao regime de 1964. Por outros meios, defendem os mesmos ideais, as mesmas aspirações, os mesmos princípios.
Quando se diz que o Araguaia vive e viceja, está se dizendo que as idéias que mobilizaram aquele grupo de bravos brasileiros estão nas raízes que formam o povo brasileiro.E hoje elas se expressam em lutas pela conquista de um regime avançado, verdadeiramente democrático e assentado nos princípios da justiça social. Em uma só palavra: o socialismo.
Esse fio histórico passou pelo Araguaia de forma marcante,e teve como impulsionador o Ato Institucional nº 5 ( AI-5), que levou a ditadura a radicalizar o uso da violência contra seus opositores. Prisões, torturas e assassinatos se tornaram rotina. Para enfrentar esse regime de terror, a resistência democrática,  adquiriu em determinados momentos, a forma de luta armada.E ela vingou na área da região da Amazônia às margens do Rio Araguaia, situada no Sul do Pará e Norte do atual Estado do Tocantins..  
O fluxo de militantes para a região do Araguaia aumentou a partir do início de 1969, devido ao agravamento da repressão política nas cidades. A maioria dos guerrilheiros era composta de jovens, dentre eles várias mulheres, que haviam participado ativamente do movimento estudantil. Ao lado destes, se encontravam antigos e experientes dirigentes partidários,como João Amazonas, Maurício Grabois, Ângelo Arroyo e Elza Monnerat. Nas matas do Araguaia, várias gerações de militantes de esquerda se encontraram.


Guerra popular


No início de 1972, já havia 69 guerrilheiros e guerrilheiras que formaram três destacamentos e uma Comissão Militar, comandada por Maurício Grabois. O objetivo era criar as condições para a deflagração de uma “guerra popular prolongada” contra a ditadura. Para isto, passaram a viver junto ao povo, na condição de simples camponeses ou de pequenos comerciantes. Alguns eram médicos, professores e engenheiros. Utilizaram o seu conhecimento para ajudar os moradores locais. Lentamente, criaram vínculos e adquiriram a confiança dos camponeses.
Mas este trabalho foi abruptamente interrompido em 1972, com a entrada de tropas militares na região e o início da repressão. Os guerrilheiros enfrentaram três campanhas, que envolveram mais de dez mil soldados das três Armas. Entre a primeira e a segunda campanha, as Forças Guerrilheiras criaram a União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo (ULDP) e apresentaram um programa de 27 pontos baseado nas necessidades mais sentidas do povo da região.
Em 25 de dezembro de 1973, a Guerrilha sofreu seu mais duro golpe com a queda da Comissão Militar e a prisão e morte de dezenas de militantes, incluindo a de seu comandante, Maurício Grabois. Em abril de 1974, transcorreram os derradeiros conflitos que culminaram com o fim da Guerrilha. Todos os prisioneiros desta última campanha foram torturados e assassinados. Cerca de 62 corpos ainda até hoje permanecem desaparecidos.
A Guerrilha do Araguaia, somada a outras ações democráticas, foi fundamental para a derrubada do regime militar.E no final a história mostrou que o ideal democrático estava com a razão.

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