Cresce debate sobre aspectos nocivos de viver o tempo todo na internet

As visitas ao Facebook cresceram somente 10% em outubro de 2011 igual ao mesmo mês de 2010, segundo a comScore.Já se fala em "saturação social", como publicou o "New York Times". Segundo depoimento de David Carr, repórter e colunista da área cultural do "NYT", 2011 foi o primeiro ano em que ele viu sua produtividade cair por causa de seu hábito de manter-se o tempo todo conectado com a internet. E, para 2012, Carr diz estar diante da escolha entre cortar passeios de bicicleta ou "alguns desses hábitos digitais que estão me comendo vivo".
Nas três primeiras semanas de 2012, não consegui abandonar a internet. "Meu Twitter ainda está me comendo vivo, embora eu tenha tido certo sucesso em desligá-lo por um tempo", diz ele. "Na maior parte do tempo, porém, é como ter um cãozinho que quer ser sempre acariciado e ser levado para passear. Em outras palavras, continua me deixando louco."

MENOS INTERAÇÃO
 
Pouco a pouco, os americanos, bem como os europeus, restringem o acesso a internet ,segundo o relatório Adoção de Mídia Social em 2011, da Forrester Research. Só um terço dos americanos e europeus atualiza seus perfis em redes sociais.
Já nos países emergentes,o Brasil entre eles, dois terços dos internautas atualizam seus perfis semanalmente. Nos centros urbanos, três quartos.
Aos estrategistas de marketing, Gina Sverdlov, da Forrester, escreve: "Se você tem como alvo usuários nos mercados ocidentais, priorize dar a eles conteúdo que possam simplesmente ler ou ver. Não espere muita interação dos consumidores ocidentais".

"SLOW" TUDO
 
A reação vai além das redes sociais. No final do ano, a revista "Travel + Leisure" publicou uma edição sobre "o futuro das viagens", ouvindo futuristas e proclamando que "o maior luxo do século 21 será escapar da rede" em "black hole resorts", refúgios em buracos negros, com "total ausência de internet -até as paredes serão impenetráveis ao acesso sem fio".
Segundo Judith Kleine Holthaus, ex-Future Foundation, hoje responsável por estratégia e insight na McDonald's Corp., "Sejam instalados no alto de montanhas ou em vilas exóticas, os buracos negros serão o ápice do movimento 'slow food' (a favor de produção camponesa), 'slow travel', 'slow' tudo -o máximo em se livrar de tudo".
Na mesma direção, espalham-se pela Ásia os centros de recuperação de viciados em internet. Na Coreia, já seriam 200. Na China, 300.
Ganham repercussão nos EUA os softwares criados por Fred Stutzman, da Universidade Carnegie Mellon, como o Freedom, um "software de produtividade" que restringe o acesso à web por um determinado número de horas.

CRÍTICAS À WEB
 
E no último ano acumularam-se os livros com questionamentos sobre os malefícios da internet: ela mina a criatividade, escreve Jaron Lanier em "Gadget - Você Não É um Aplicativo" (ed. Saraiva); Sufoca os momentos de sossêgo, segundo William Powers em "Hamlet's Blackberry",inédito no Brasil; E afasta as pessoas com ferramentas que serviriam para aproximá-las, segundo Sherry Turkle em"Alone Together", também inédito por aqui.
O mais crítico é Nicholas Carr, autor de um artigo de grande repercussão na revista "Atlantic","Is Google Making Us Stoopid?" ("O Google está nos tornando burros?"), com argumentos que depois ele reproduziu em "A Geração Artificial" (ed. Agir). E nesta edição recente,ele faz a indagação: "O que são os smartphones senão coleiras high-tech?".

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